Mais dias difíceis.

É difícil evitar comentar. Bem que tentei, mas realmente o filme Tropa de Elite impregnou o nosso já pobre vocabulário. Para quem já foi ou é militar, as expressões não soam tão estranho, nem divertido, nem engraçado. Porém, para a imensa maioria leiga, o tal Capitão Nascimento virou um ídolo e espalhou as manias de seu personagem por todos os cantos. A febre do Tropa de Elite é uma doença que contaminou, inicialmente, os camelôs. Esse foram os hospedeiros que disseminaram a praga não somente entre os mais pobres, mas também entre os mais abastados que só vão ao cinema ver filmes americanos, e acham que cinema nacional é só palavrão e baixaria. Estes estão certos, só esquecem, porém, que o cinema estrangeiro só não tem mais palavrões por não ter um idioma criativo como o nosso.
Mas, vamos às graves conseqüências da febre do BOPE. Adolescentes agora não querem mais ser de classe média, preferem ser chamados de periferia, morro ou classe C e D, ou até mesmo, E. Nas escolas, predominam termos como “Pega o saco”, “pede pra sair” e outras frases do personagem bonzinho do filme. Essas coisas cansam fácil o eleitorado, é pior que escutar rádio de músicas pop. É um verdadeiro massacre, a mesma música toca até vinte e oito vezes no mesmo dia, em alguns casos. Isso dá mais de uma vez por hora. Incrível. Mas o mais estranho desta festa toda é escutar os aplausos da classe média dentro do cinema. Aqui em Curitiba, acho que entenderam que o recado dado no filme era só para a classe média drogada do Rio de Janeiro.
Aqui no Paraná, onde Requião sempre tem razão, a coisa ficou mais grotesca. Ao atravessar o centro da cidade, por duas vezes deparei-me com a novidade da corrida matinal da Polícia Militar, na rua com aqueles cantos que, geralmente, costumamos ouvir dentro dos quartéis do Exército. Aliás, o Exército diminuiu a prática de correr na rua, para não se expor ao ridículo do exibicionismo, assim a PM de Curitiba está assemelhando-se ao seu governo, e tenho certeza de que todos foram juntinhos assistir ao filme. Se no cinema, não sei, mas que é tudo influência do BOPE, não tenho dúvida.
Porém, o que importa realmente, é que o filme venda bem, principalmente para o exterior, e que cada vez mais tenhamos mais bons policiais, como os do filme, cumprindo seu dever com afinco e garra. Assim vamos chegar à boa democracia de sempre, enquanto caminhamos para a liberação da maconha, que já é livre, e do aborto, que também já é. Depois disso tudo, só falta elegermos o Lula de novo, depois disso, vou ficar esperando que algum super-herói apareça e nos dê um jeito. Sem o uniforme do BOPE, claro.