A função social do Big Brother


No último dia 20 de janeiro, o célebre Fausto Silva em seu programa dominical, reuniu numa reportagem alguns dos ex-integrantes, vencedores e não vencedores da versão brasileira do Big Brother.

Aparentemente estão todos muito bem, inclusive a matéria serviu de trampolim para o lançamento do CD do tal Bruno, com um pop rock comercial perfeitamente dispensável.

Mais importante do que isso, porém, foi a reflexão feita em cima das pessoas comuns que se tornam celebridades, e que, com isso, agora têm um ganha-pão garantido, em virtude da exacerbada exposição proporcionada pela Rede Globo. Muitos são convidados para eventos, reconhecidos nas ruas, viraram empresários com o montante que receberam e hoje, com certeza não fazem mais parte das estatísticas de luta e sobrevivência da qual faz parte a maioria do povo brasileiro.

Mais do que um reality show sem muitas pretensões culturais, o BBB é uma grande fonte de renda para a Rede Globo, e uma vitrine mais do que perfeita para os maus profissionais de marketing, que , na falta de um planejamento estratégico convincente, preferem gastar milhões utilizando-se da mídia mais cara e burra, já que, certamente, lhes trará algum resultado, mesmo que não seja mensurável. É assim com a Fiat, com as empresas de cosméticos e grandes redes de eletro-eletrônicos que se servem dos espaços publicitários do programa. Ou alguém acredita que o público alvo da Fiat para seu lançamento é o mesmo povo que compra as revistas de fofoca de R$ 1,99?

Para os participantes, a partir do momento em que pisam na “casa mais vigiada do país”, basta relaxar e colher os frutos deste “trabalho” que é ter sua imagem e seu comportamento expostos em horário nobre na tv aberta, e durante 24 horas na Internet ou TV paga. São brasileiros escolhidos a dedo e dispostos a ganhar cada vez mais com suas peripécias pessoais. São bastante políticos neste sentido, e pode-se perceber, claramente, que são tipos que hoje estão na moda: pouco conteúdo nas conversas, muita tatuagem, modinha e “papo cabeça”.

Esse é o produto que milhões de brasileiros compram ao participar dos paredões, ao acessar os sites, televisão a cabo e comprar revistas que noticiam as ocorrências destes homens e mulheres manipulados pelo desejo banal de estarem expostos aos olhos da multidão, sem esforço ou merecimento. E depois de tudo isso, a televisão vai sendo tomada por tipos como Bambam, Alemão, Sabrina Sato, Graziela e outros cuja única escola foi serem escolhidos, sem imparcialidade pelos produtores. A televisão fica carente de espetáculos mais aproveitáveis ao todo, afinal, todos deveriam deleitar-se de sua programação, e não somente o público alvo dos patrocinadores.

O mercado perde como um todo. Não se vende mais literatura por que se vendem produtos mais baratos, como fofoca ou moda popular. Fatalmente cairá o preço comercial dos programas mais culturais em todos os meios. O Brasil erra ao desviar o mercado ao consumo popular, e obriga-se a baratear sua cultura para que “todos tenham acesso”. Mas isso acaba não acontecendo porque os grandes meios de disseminação da informação estão absortos em vender o que é de massa, e o que é da massa, é barato e fútil, sabendo-se que a massa não dispõe de poder aquisitivo suficiente para comprar cultura. E já que a cultura está mais barata, não seria mais idôneo eliminar o que é fútil e vender o que realmente agrega valor à cultura popular?

Essa é para pensar, debaixo do edredom.