Doces Palavras

Enquanto escrevo estas doces palavras, um maluco que seqüestrou a ex-namorada está tomando conta dos noticiários. Um rapaz que ainda não sabe muito das coisas passionais da vida, prestes a cometer um crime, também passional. É a juventude, cheia de posses e de coisas penduradas, sofrendo a maldição da hereditariedade confusa, que uma hora chega até eles, e as conseqüências são desastrosas, na maioria dos casos.
Também uma greve de policiais civis, liderada pela CUT e Força Sindical, causou um momento zen nas proximidades do Palácio dos Bandeirantes. Feridos no bolso e no ego, os “polícia” maltratam nossos ouvidos ao chorarem diante das câmeras, abalados por um confronto entre duas forças que, teoricamente, servem para manter certa ordem social. É incrível como as lideranças sindicais não se dão conta de algo tão óbvio, talvez porque a expressão ordem social não pertença ao seu vasto vocabulário.
Voltando ao seqüestro em São Paulo, e à passionalidade do crime. O tal Lindemberg é um típico representante das novas gerações, e da ira que carregam. Apesar de todas as explicações de psicólogos e analistas, existe um único motivo que norteia a atitude, totalmente sem discernimento do indivíduo, a carência moral. Somada à falta de limites educacionais, cultura e outros elementos básicos para a formação humana, a carência moral deve ser considerada como uma deficiência, passiva de tratamento intensivo, antes que tragédias aconteçam, neste caso, já é tarde, mesmo que todo mundo saia bem.
Portanto, a solução para este problema eu já mostrei, agora vou escrever sobre a circunstância do fato: acabo de ler no portal G1 que os advogados do São Paulo foram interceder junto ao seqüestrador para que libere os reféns. Maldito seja o marketing, até nessa hora esse pessoal não perde tempo! A minha grande dúvida é: foram negociar para libertar o refém, ou para o seqüestrador recolher a camisa do time que ele colocou na janela? Afinal, é um bandido, está manchando a imagem de uma instituição de sucesso. Já posso imaginar os dois homens de terno preto, abrindo uma mala cheia de dinheiro e falando para o Lindemberg: “Isso tudo é seu para trocar a camisa pela do Palmeiras, Corinthians ou Santos.” Há que se manter uma imagem de que torcedor do São Paulo não faz isso, puro golpe publicitário.
Outra coisa que me emociona é a segurança do Coronel Eduardo José Félix, da PM, que afirma que a adolescente que foi liberta e que, por exigência do seqüestrador, voltou ao cativeiro, não é uma refém. Imagino que ela deva estar passando, neste momento, por bons momentos junto à amiga, tomando “refri”, lendo a Capricho, e ouvindo Mcfly. Estou preocupado com o que acontece às pessoas diante da imprensa, desde o caso Nardoni, as reações das pessoas diante das câmeras estão cada vez mais ridículas, e o que dizem então, nem se fala. Fico à disposição para um “media training” e assessoria de comunicação, já que a hora é propícia ao marketing, meu gerente vai adorar isso.
Enfim, amigos, nada de anormal no mundo desde o último texto que postei, tudo vai como sempre foi, obedecendo à máxima de que “não foi o mundo que piorou, mas a imprensa que melhorou a cobertura”. Concordo, e coloco a solução do seqüestro nas mãos da CUT, que está distraindo o efetivo policial com conversas banais enquanto já poderiam ter engaiolado o são-paulino. Pelo menos, aproveitei para fazer minha propaganda, e fico por aqui, aguardando o desfecho da situação, como se eu não tivesse, realmente, nada para fazer.

Allan Jones
Vendedor de Capricho
Acima de 200 exemplares, na minha mão é mais barato.