Gosto das Bruxas.

Amigo Leitor
Comecei a escrever com quatorze anos. Não havia reforma ortográfica e a mídia não me dava muitas informações pertinentes sobre a vida e a história. Era tudo um padrãozinho medíocre que não me chamava atenção, exceto os jogos maravilhosos da Libertadores nos anos 80. Não ia escrever sobre futebol, preferia jogar. Então me arrisquei nos poemas. Uma professora maluca do colegial me incentivava, dizendo que os poetas estavam “um passo à frente” do seu tempo. A verdade era que eu não me sentia assim, muito pelo contrário, era um poeta que gostava de um passado que eu não tinha vivido, cheio de bruxas, feiticeiros, caveiras e música, muita música, rock, logicamente.
A política passava longe dos meus textos, a única coisa que me chamou a atenção foi a morte de Tancredo, que nas minhas brincadeiras (então com dez anos) eu gostava de repetir, simulando que eu mesmo era o médico na mesa de cirurgia. Ele sempre morria, nunca fiz questão de salvá-lo.
Esse pequeno prelúdio é apenas para gerar a comparação. Hoje, com acesso irrestrito à muita informação, tenho vontade de escrever sobre muita coisa. Os comentários maldosos vêm à tona a cada atualização nos sites de notícias e portais mais populares, reagindo com indignação e rebeldia à tanta bobagem, mas no final, me contenho, por que sei que alguém se alimenta disso tudo, e o politicamente correto que me foi condicionado pela minha mãe e pela Igreja fala mais alto, contendo-me nos meus afazeres de marqueteiro.
Porém, nos últimos dias, acabei segurando palavras que lhes poderiam ser úteis, uma vez que, não sei se todas as anteriores realmente foram, mas o fato é vou escrever do mesmo jeito. Estamos diante de uma crise geral, não só econômica, mas também moral, que compactua com a estupidez da agenda da mídia que insiste em nos apresentar tudo isso num padrão morno de quem prega uma imparcialidade medíocre, na qual acredita-se passivamente, numa compra diária e invasiva de informações inúteis. A televisão, os sites, as rádios e jornais, em sua maioria, estão num círculo vicioso de denúncias que disputam a nossa atenção de maneira selvagem, porém, o que mais interessa, não nos é revelado, por que é forte demais, deixando à mostra o que há por trás da máscara social na qual nos escondemos. Poucos veículos cumprem um papel na Comunicação Social, de modo a gerar não só informação, mas também cultura e possibilidade de interpretação não condicionada. Por razões óbvias, não revelo quais são, e também não vou dizer quais não são.
Tudo isso é profético, e as bruxas e feiticeiros, de longe representam o verdadeiro mal. Cada vez mais teremos homens e mulheres com a índole do assassino da menina Raquel, de Curitiba, como o casal Nardoni e tantos outros que não aparecem, mas estão pelas esquinas vigiando seu filho ou filha, leitor, e eles não se importam se você gosta ou não do que estou escrevendo agora, apenas farão o que satisfaz o seu hedonismo, que é reflexo puro e sintetizado do que a sociedade prega: prazer, poder, estética, status e posses. Ao final de tudo isso, eles podem ser condenados, mas aí já mancharam a história de alguém, merecedor ou não do castigo, e levarão para a cela nossa vontade estúpida de linchá-los, diante das câmeras de TV, participando do show diário da Comunicação Social.
Falando no show da Comunicação Social, falo um pouco do americano Obama eleito, intermináveis reportagens e documentários sagrando um herói que ainda nem começou a governar, por que é negro e isso é considerado histórico. A notícia ruim é que a raça de Obama não vai nos salvar dos nossos contínuos erros morais, e quando um representante da minoria chega ao poder, parece que vamos nos redimindo, por dar “uma chance” a um representante da minoria excluída. Podemos eleger mulheres, homossexuais, manos, punks, metalúrgicos, acreditem, isso não vai nos ajudar. O erro é que acreditamos que levar crianças à parada da diversidade é estar participando de uma causa social justa, que doando dinheiro para ONGs estamos fazendo nossa parte para um mundo melhor, que o dízimo nos salvará e que assumir uma postura social “modernizada” nos fará mais descolados, engajados e respeitados. O pensamento da esquerda moderna remete à uma sociedade participativa, onde a opinião pública é levada em conta, o consenso popular está na moda, e muita gente ainda acredita que isso seja um reflexo da globalização. Negativo. A esquerda moderna continua sendo esquerda e seus pensamentos são puramente um populismo digitalizado, personificado nas minorias que eram consideradas excluídas, e na manutenção do show da comunicação, no velho pão e circo. Peço perdão se você acredita nestas coisas, mas, ideologias à parte, a moral continua sendo destruída. Lindemberg é fruto de uma geração irada que não sabe a dose e a medida entre o certo e o errado, entre a razão e a emoção. Não quero que você desista, mas esperemos, juntos, por mais casos como estes, por que não há como parar a máquina da História e a evolução social. Enquanto nos preocupamos com a diversidade e a modernidade, a moral está acabando e vamos definhando, felizes e sorridentes, em meio ao caos solidário dos que pregam uma falsa liberdade e uma democracia superficial.
Nos meus próximos escritos, se não for preso, darei mais atenção às bruxas e feiticeiros, eles me fazem menos mal.