A era dos macacos – Uma reflexão lúdica sobre o relacionamento humano

Deve ter sido muito engraçado o tal Charlies Darwin. Anos viajando e estudando animais pequenos e grandes, fazendo cálculos, comparando órgãos e orelhas, verificando as semelhanças entre as raças, as espécies. Como grande piadista que foi, não posso negar que Darwin nos deixou uma grande mensagem: precisamos evoluir muito para parecer com os animais.
Observemos as relações humanas. Em todos os ambientes as pessoas são conturbadas e perturbadas por moldes vaidosos de comportamento que sempre estão colocando-as numa competição invisível, e o pior, nesta competição ninguém ganha nada. Homens e mulheres estão cada vez menos cientes de seus papéis sociais, e cada vez mais interessados na moda comportamental que terão de seguir, no estilo da roupa, no corte de cabelo e, assim como Darwin, preocupados com as comparações entre as diversas “espécies” que existem no meio social humano.
As comparações são ferramentas que permitem aos homens e mulheres discernir sobre o que, sob uma ótica superficial e supérflua, torna uns melhores do que outros. Muito utilizada no dia-a-dia, ela molda o comportamento de modo que, cada vez mais, as pessoas se comportem, não como realmente são, mas como acham que devem ser para não parecer-se com aquelas pessoas que não gostam independente dos motivos. Ou então para parecer-se com pessoas que gostam, ou com pessoas famosas. Assim, quando muitas pessoas dominadas por esse mal estão juntas, o diálogo fica insuportável de tal maneira que seria muito mais fácil dialogar com macacos, afinal, ninguém se revela como é, mas como gostaria de ser. Vamos aos exemplos? Vou usar modelos fictícios para não ofender a ninguém, qualquer semelhança com pessoas e acontecimentos reais será mera coincidência.
A notícia do momento é a absolvição de um policial que matou, durante uma ação, uma criança de três anos. Num escritório de uma empresa qualquer, às 8h, os funcionários da área administrativa (que são os únicos que estão full time na internet, começam a debater o assunto). O primeiro diz: “Que absurdo, a justiça realmente não funciona neste país, se fosse nos EUA, a coisa seria diferente.” Um segundo funcionário faz um comentário mais eloqüente: “Talvez tenha sido um acidente.” O terceiro funcionário, que mora na periferia rebate: “Que nada, policial é tudo f.d.p, aposto que já chegou atirando para tudo que é lado sem ver direito com quem estava lidando.” A mocinha, passando batom e enrolando para começar o trabalho, afirma que conhece alguém que passou por situação semelhante, e que o policial realmente tem culpa. O debate vai ficando acalorado, e então, chega um funcionário que ninguém gosta, aquele um que sempre está fora da panela, ele ouve a discussão e intervém: “É óbvio que há dois lados nesta história, o policial estava trabalhando, ao tempo que a família com a criança estava no shopping, confundiu o carro com o dos assaltantes, era noite, estava escuro. Mesmo assim ele tem uma parcela de culpa, pois foi precipitado. Já o Estado é o maior culpado, pois não o preparou corretamente para uma ação de alto risco. A indignação dos pais é compreensível, porém se não fosse uma família de classe média e bem instruída, nem estaríamos debatendo o problema aqui, em Curitiba, longe do fato.”O silêncio no ambiente é total. Ninguém mais se manifesta, todos voltam ao trabalho se remoendo sobre e petulância daquele “metido a culto”, e todo esse ódio será derramado pelos corredores, próximo à garrafa de água ou café, e se estenderá pela hora do almoço.
Amigo leitor, este é apenas um exemplo, e a grande verdade é que isso não acontece somente em empresas, o mal está nas igrejas, escolas, faculdades, na rua, nos ônibus. É o mal da imbecilidade, que banaliza o ser humano de forma a contestar qualquer teoria evolucionista, que venha a pregar que somos uma versão melhorada dos macacos. Os primatas, pelo que se conhece, não fazem nada disso, portanto, pergunto, onde está a evolução? Ah! Já entendi! Nas roupas, na moda e no padrão comportamental.
Vamos esperar que em 2009, esse mal diminua em todos os lugares. Se você conhece gente assim, cuidado para não se contaminar, pois o vírus não escolhe hospedeiros, são velhos, jovens, ricos e pobres, todos misturados num único rebanho de infectados. Vamos rezar por eles numa grande corrente criacionista, afinal, o grande objetivo de Darwin deve ter sido ofender os macacos, sem saber que é muito mais fácil lidar com eles. “Yes, nós temos banana.”