Uma elegia de culpa.

Neste exato momento, estou presenciando uma tórrida discussão entre Tony Ramos e Thania Khalill, no embate cultural da novela Caminho das Índias. O que impressiona na sordidez de uma telenovela, é a maneira cruel de impressionar os telespectadores com o mesmo enredo de novelas anteriores. A crueldade prossegue pelo simples fato da televisão continuar ligada neste horário considerado nobre, porém, o menos inteligente da televisão brasileira.

Direcionando o problema à nossa boa e velha Curitiba, a equipe afiliada da TV Globo local nos presenteou, há algum tempo com a Revista RPC. Ainda estou pensando em qual é o verdadeiro objetivo do programa. Assisti alguns episódios, ou capítulos sei lá. Confesso amigo, que ainda não entendi. Os quadros mais engraçados eram apresentados por Diogo Portugal, que repetia suas piadas de dois anos atrás, com uma pitada de atualização em cima dos fatos de hoje. É a mesma receita do Casseta & Planeta, a piada é a mesma, só muda o fato em si. Em outra ocasião aconteceram alguns contos espíritas (claro), mais a série que mostrou uma versão superficial da história da tal Maria Bueno, uma santa inventada pelo povo daqui, na falta de outros curitibanos mais nobres. Na última edição, um ápice de mau gosto com a entrevista do assessor de gabinete do Presidente da República, o nome da criatura é Gilberto Carvalho, e segundo a TV Paranaense costuma apontar, é paranaense; talvez sua principal qualidade. A edição fez lembrar o antigo assessor de imagem do programa CQC, mostrando no início, o elemento fazendo de conta que está trabalhando, e depois o repórter chega como se “de surpresa” no ambiente do entrevistado, que demonstra estar em plena atividade. Tudo a mesma coisa, igual receita de novela.
Isso me orgulha muito na eficácia da programação da TV curitibana. Temos a maravilhosa TVE do Requião, cuja programação é o ápice da vergonha para a democracia. Mas podemos fugir para algum lugar um dia e nos refugiar, talvez, nos mutantes da TV Record, ou na própria Igreja Universal, que Deus nos ajude.
Mas nem tudo são farpas meus amigos. Curitiba fez aniversário, teve bolo e tudo mais, teve o tal Curitiba Country Festival, sobre tal festival também mantenho meus questionamentos. A reportagem (da RPC) mostrou que 55% da população curitibana gosta de música sertaneja! É um dado importantíssimo, se considerarmos que exatamente 55% da população não são curitibanos, conforme a mesma RPC! Gente estamos chegando à conclusões maravilhosas sobre nossa Curitiba! E agora?
Vamos aos verdadeiros problemas. Como faremos para nos livrar do freak show do transporte coletivo, que é tomado como exemplo para muitas cidades? Quem vai acabar com o espetáculo deprimente dos ônibus lotados de pessoas sem educação, manos com suas manias escrotas, torcidas organizadas sem controle, o transporte pode ser realmente bom, mas e o povo? Esta é uma situação verdadeira que aparece nos registros de mídia uma vez ou outra, com pouca repercussão, e colocando o ônus do caos somente nas empresas de ônibus. Talvez quando os seguranças dos shoppings e a PM decidirem usar a força novamente o assunto volte à pauta.
Mas por que esquecemos tão rapidamente de tudo isso? Estou sendo simplório eu sei, mas é que um amigo perguntou-me sobre o que penso a respeito do BBB, aquele confinamento de pessoas diversas, com pensamentos diversos e aparências diversas também, no qual todos ficam telefonando para votar nos supostos vencedores, ou tirando os perdedores. O BBB funciona da seguinte maneira: pessoas humanas, diversas ou não, são curiosos. E gostam de saber coisas sobre pessoas como você, como eu, ou que pelo menos se pareçam com elas, seja na pobreza intelectual, na aparência, na maneira de falar ou pensar, essas coisas. Esse tipo de atração e curiosidade acontece muito nas classes C e D da população, cujo acesso à informação e ao entretenimento estão limitados à televisão e internet, mas observem que estou utilizando um termo genérico, esse afã pela vida alheia não é exclusividade destas classes sociais. Essas classes, porém, movimentam um mercado bilionário, pois são fiéis à suas compras, e gostam de sentirem-se participativos em programas com os quais se identificam. A fofoca é interessante, distrai. Tentar adivinhar o que fulano faz ou deixa de fazer. Criticar outro “personagem” que, na visão do telespectador são pessoas comuns que têm a chance de “vencer na vida”. A ilusão está formada, e aliada com grandes marcas e patrocinadores temos como resultado o espetáculo interativo mais lucrativo da televisão brasileira. Explorar o meu e o seu lado curioso é muito lucrativo. É a mesma receita da novela. O mesmo enredo, pessoas diferentes. E o que é pior, os mesmos telespectadores.
Assim como no transporte coletivo, a culpa não é só das empresas. Pensemos nisso.
Feliz Páscoa a todos.