PREJUÍZOS CULTURAIS - Primeira Parte - O caso de Sean Goldman

Esta série de artigos tem a ousada missão de revelar, ou até mesmo mensurar quais os prejuízos que sofremos com os desmandos da mídia, seja ela qual for ou a qual grupo pertença. Logicamente, que a Rede Globo deverá ter mais citações, pois é a líder em produções, audiência, possui um alcance maior, etc. Porém, a priori, não há aqui nenhuma intenção de ofensa ao trabalho, mas uma oportunidade de detecção crítica de lacunas que, de alguma forma, geram um vácuo cultural que em nada nos agrega, informa ou diverte.
Nesta primeira parte, abordarei o caso do garoto Sean, que como todos sabem, tem um pai americano vivo e uma mãe brasileira morta. Ficou muito clara a exploração da imagem de uma criança em favor de opiniões e sentimentos próprios, tanto da parte estrangeira, como da parte da família brasileira. A decisão da Justiça, prudente, foi apenas um detalhe em meio ao tumulto midiático em torno do caso, que chegou a quase resultar num incidente diplomático.
David Goldman, o pai: flash's ao vivo para imprensa americana durante toda sua viagem.
Já é sabido que, não só no Brasil, a chamada liberdade de imprensa é a porta de entrada para abusos descomedidos na esfera da comunicação. Não há critérios, pois estes representariam uma censura, e jamais permitiremos que se repita essa canalhice. Mas também é evidente que a ética está posta de lado, ou melhor, é muito difícil se ter ética na mídia se as próprias fontes não inspiram tal prática. Sabemos que a Justiça, cega como é, sempre vai se apoiar na mídia como importante auxiliadora em várias questões. Para a sociedade, a mídia também se apresenta como tal, e será sempre esse chamado “quarto poder”, e tem motivos justos para tais atribuições. No entanto, no referido caso, estamos diante de um caso de família, duas famílias de posse que entraram num conflito cheio de vaidades, como é de praxe das pessoas mais abastadas, e que em hipótese alguma deveria ter ganho as esferas midiáticas. Por quê? Por que se a Comunicação é Social, ela não é de uma única família, certo? Não estamos diante de nenhuma situação de risco social grave e a comoção gerada foi pura especulação e curiosidade, até chegar ao ponto de chefes de Estado debaterem a questão. Repito, não houve nenhuma utilidade social no caso mostrado, nas matérias apresentadas, nada foi acrescentado ao meu ou ao seu cotidiano. E se por acaso você esteja, ou conheça alguém que passa por situação semelhante, a regra sempre foi clara, assinada em um tratado internacional, e atinge uma minoria bem consciente.
Silvana Bianchi, a avó: Entrevistas estratégicas e emocionadas em rede nacional

Prejuízos Culturais:
A exposição de uma criança ao assédio selvagem da mídia, a espetacularização de um fato de esfera particular como se fosse fundamental para a sociedade, e o desconforto entre duas nações aliadas, gerado por uma contestação infundada a um acordo internacional.
Segundo os advogados de David Goldman, o garoto deveria ser entregue em lugar reservado, dentro do prédio do consulado americano. Sérgio Tostes, o advogado (acima, à dir.) parece que não concordou. Advogados também têm suas vaidades.

Em entrevista coletiva, Tostes exibiu o suposto cartaz feito por Sean. Eu acreditei, e você?

Solução
A mídia é sujeita á justiça como todo e qualquer cidadão. Não há nenhum tipo de necessidade de criação de conselho regulamentador, ou órgão governamental fiscalizador para as atividades de comunicação. Portanto, neste tipo de caso, as duas famílias, os veículos de imprensa e todos os que colaboraram para criar um espetáculo em torno da situação familiar de uma criança, e sujeitaram esta mesma criança à uma pressão social que poderá ter seqüelas futuras, deveriam ser multadas em pesadas indenizações, destinadas ao serviço social. Seria, assim, um bom exemplo para que não se leve mais casos como este a tomar praticamente todo o editorial de todos os veículos de comunicação. Afinal, casos que não são de extremo interesse público não deveriam ser pautados com tamanha urgência. O do menino Sean não foi o único, mas provavelmente um dos mais “endinheirados”, e isso, como se sabe, faz toda a diferença.