Recentemente, fiquei assustado. Pipocam por todos os lados palestras e cursos sobre a arte de dizer "não". Porém, pergunto o porquê desta paranóia negativa, quando o grande problema é justamente não sabermos quando dizer "sim"?
O "não", já aprendemos, na maioria das vezes, antes mesmo de dizer "pai" ou "mãe" ( papai e mamãe para alguns mais carinhosos). O "não" virou um clichê de ideologia barata: Diga não às drogas! Ao álcool! Ao Pedágio! Seja lá o que for, a sociedade se fez acreditar na eficácia do negativismo imediato, sem se perceber que criou um monstro chamado Hipocrisia.
Sim! A hipocrisia de um "não" imediato, sem análise, que conhecemos desde a infância.
Então, vamos à importância de um "sim" concreto! Não é aquele que dizemos por acaso às vezes no altar da Igreja, como se esse fosse o padrão ideal da resposta ao matrimônio. O ideal neste caso, seria o "aceito", que demonstraria o pleno conhecimento dos futuros cônjuges com suas obrigações reais de casado,ao invés daquele "sim" romântico, imortalizado pelas novelas e vendido pelas empresas de eventos. Este "sim" está sempre à boca, como que esperando para sair em qualquer atendimento comercial: Sim? Em que posso ajudar? É a mais pura verdade, precisamos, sim, de cursos e palestras sobre como dizer "sim"!
A necessidade identificada está no controle dos nossos positivismos exacerbados. Observe, no caso do casamento, o "sim, eu aceito" lhe confere uma responsabilidade dobrada, por isso, quase ninguém fala.
Ou então uma situação cotidiana, aquele favor que um amigo está lhe pedindo e você não quer fazer, ou não pode. O elemento praticamente já lhe põe contra a parede: Você pode me fazer um favor? Mesmo sabendo que ele não dispõe de toda essa educação, você acaba entrando na onda e dizendo "Sim, claro!" como se fosse o salvador da Pátria! O "sim, claro" também lhe deixou duplamente comprometido.
Agora, essa é para as mulheres e homens que são constantemente assediados, pela sua beleza, inteligência ou simplesmente pelos seus corpos bonitos. Quando não falamos não para alguma cantada, mesmo que aquelas mais disfarçadas do mundo, é o mesmo que dizer "sim". É a máxima do "quem cala, consente" que vale para vários setores da sociedade, criminal, familiar, comercial e, lógico, o afetivo. Quando o "não" falha, o "sim" assume automaticamente sua posição social e lá ficam as pessoas, esperançosas por um beijo ou um jantar que lhe abra as portas para satisfazerem seus sentimentos, mesmo que impossíveis. Quanto sofrimento um simples "sim" calado pode causar... O ser humano, ingênuo, acha que é falta de educação dizer "não", mesmo sabendo que não pode dizer "sim"! O não, neste caso, quando adiado, é objeto de um intensivão, pois é muito complicado.
Política. Essa é uma fábrica de "sins" indigestos. Lembram o referendo do desarmamento? A pergunta era tão maliciosa que eu mesmo não sabia o que respoder! Na dúvida optei pelo não. Afinal, como bom ser humano, estou aprendendo a dizer sim. Aos poucos, sem exageros, para não errar...