Volta, Samarco!

Pela volta da Samarco - foto G1 



É muito conveniente, e passivo de erro, comentarmos os fatos em meio à comoção e fervor originadas logo após os acontecimentos.  As nossas tragédias diárias são suficientemente enfeitadas pelos comentários da internet, sem que eu precise colaborar de imediato,  para este caos da superficialidade.  
Por isso hoje estou refletindo sobre Mariana, a cidade que foi esmagada pela companhia mineradora Samarco.  Entrei no site da Prefeitura Municipal, e descobri que as famílias receberam recentemente um cheque de R$ 2.614,38. As pessoas que perderam, além de entes queridos, tudo o que tinham, ou o nada que tinham, receberam um cheque, cuja origem foram as doações voluntárias em campanhas pelo Brasil afora.  Logicamente não foi só isso que receberam,  houve outros tipos de doações, logística de encaminhamento, abrigo entre outras ações.  Mas mesmo assim, a situação soa um pouco estranha.  A real situação dos moradores ainda está indefinida, a respeito de onde vão morar, a lentidão deve ser a grande tortura, mas mesmo que tudo seja resolvido na próxima semana, o que vai acontecer depois?  

No último dia 12 de março, aconteceu uma manifestação reunindo lideranças locais pedindo a volta da atividade da mineradora, responsável por praticamente todo o dinheiro que circula na economia da região.  Algo que no nosso país social-capitalista, é muito comum. Grandes indústrias em zonas de baixa densidade demográfica, fazendo a economia girar, mas ao mesmo tempo tornando essas cidades como reféns.  Mariana é uma cidade histórica, mas possui pouco mais de 55 mil habitantes, não é nenhuma metrópole. No Brasil, qualquer aglomerado de 5 mil pessoas pode ser uma cidade, e depois tornar-se refém destas grandes empresas, e também do Estado, com a imensa possibilidade de serviços públicos geradas pelo município. 
Outra situação é a do Meio-Ambiente. Muitas doações estão sendo feitas, indenizações cobradas para recuperação do Rio Doce, mesmo sem a garantia de que possa vir a voltar à sua plenitude. Os acordos políticos cheios de holofotes são apenas paliativos. O fato é que cinco meses depois, nem o Rio Doce, nem as pessoas estão amparadas.  As ações indenizatórias estão sob recurso, afinal a empresa recorreu de todas as decisões. O social-capitalismo, ao que parece, não tem nada de social.